sábado, 22 de setembro de 2007

puta da míopia


Desde que chegamos ao mundo, somos pulverizados constantemente com os temores dos nossos pequenos ou grandes defeitos.
As psicologias de bolso, inscritas nas revistas de cordel, pseudo-ensinam-nos a lidar com os nossos handicaps.
Mas o muro das lamentações está lá, e ao invés de um pedido de clemência, o que lá depositamos mais não são do que cabeçadas. Marradas na ignorância. Na dos outros e na nossa.
Isto tudo para dizer que sou míope... Altamente míope ...
Ou seja, vivo num limbo entre ter ou não ter os óculos postos (e mesmo as lentes de contacto só ajudam a 90%).
Sem óculos, tudo se move numa tela de um qualquer artista abstracto, há pinceladas de cores que se misturam numa promiscuidade sem precedentes, expressões vazias de pessoas que afinal não o são, sombras que se adivinham, suposições, interrogações, incertezas, porquês, o quês? ondes ? quens ?
Com óculos, é um mundo centrado em torno destas duas lentes grossas, e que deixa de existir num estalar de dedos pra lá delas.
A minha avó costumava dizer que tenho ouvidos de tuberculosa (parece que os portadores da doença têm fama de ouvir muitíssimo bem), e não há muito tempo, uma amiga acusou-me de ter nariz de perdigueiro.
Este apurar dos outros sentidos, só pode ser uma rebelião de mim mesma à minha periclitante visão.
Só para dar um exemplo mais elucidativo, tenho quase todas as pessoas que conheço (pelo mesmo as que merecem) avisadas, no sentido de não levarem a mal se eu não as cumprimentar, quando passar na rua... em 30 e muitos poucos anos de vida, perderam-se no infinito dos números, a quantidade de vezes que falei à pessoa errada, as vezes que cumprimentei um alguém que não conhecia de lado nenhum, as vezes que acenei efusivamente a outro perplexo alguém....e por aí adiante.
Há pouco pedi a uma criança que não conhecia de lado nenhum, que mandasse beijos à mãe......assim, a uns 5 metros de distância, aquele rapazinho parecia-se tanto com outro, que eu, cegueta, como todos os dias, depressa o transformei naquilo que queria.
Chego a duvidar da lucidez do meu cérebro! Deixar-me fazer estas figuras tristes!

Podem rir à vontade.....quando me passa a vergonha, destas minhas precipitações, também largo umas valentes gargalhadas.

Apesar de tudo, no meu mundinho bordado a lentes grossas, os meus olhos alcançam muito mais do que aquilo que veem , e isso nem a puta da míopia me pode tirar.

2 comentários:

MoiMêMê disse...

Sabes o que amo mais nas pessoas que amo? Os seus handicaps, as suas imperfeições, as suas inseguranças, é isso que as torna diferentes...

sandraf disse...

então sou muito diferente porque tenho muiiiiiiita míopia!!! hihihi