quarta-feira, 7 de abril de 2010

about eyes




Comentários lacónicos balbuciados entre dentes, mal são ouvidos.
E os olhos julgam o desconhecido, pela necessidade racional da classificação do mistério... não se contentam em apenas ver. Talvez essa falha justifique a falta de tacto em relação ao mundo. A ideia que se compreende aquilo que se vê é falha, até mesmo estúpida. Olhos são como gatos, traiçoeiros, capazes de ludibriar seu próprio dono, ou quem quer que ouse desvendá-los. Eles mesmos possuem seus próprios mistérios, alguns irreveláveis. Mas tratam de desvelar os véus alheios, com a tola pretensão de poder entender, conhecer, julgar.

Com os olhos eu vejo... com todo o resto, observo. E é quando fecho os olhos que consigo realmente sentir o mundo ao meu redor. Só observo além do óbvio quando estou absorta na cegueira, quando a claridade dá espaço às trevas, quando a alma voa.
Quando estou cega sou toda sentidos.

segunda-feira, 15 de março de 2010

daydreams

Observo-me de um jeito assustado. Estou assim, tão forte e tão de repente. Dispo-me dessa pele que me esconde do mundo. Estou nua, tão absurdamente nua. E nem sei de onde surgi, como vim parar no meio de tantas coisas. Balbucio duas ou três palavras, todas elas carregadas de desejos impunes. Há um mapa em branco entre os meus pensamentos. As poesias estão todas sobre a cama, porque quero ler em voz alta. Os livros são testemunhas mudas e inertes de um acto não consumado. E a alegria que me toma de assalto em pleno baile de máscaras. Aquelas outras músicas também calam. Oiço somente melodias que me dizem algo sobre o que sinto por baixo da pele. Permaneço em silêncio, com olhos vidrados. O sono é persona non grata entre estas paredes. Não recuo. Não avanço. Há uma tensão implícita e instigante na ausência do toque, na separação, na gana que me provoca. Ouço tempestades aproximarem-se. É o meu rosnar pacífico de revolta. É o meu caos hormonal lançado contra o mundo. Silêncio ensurdecedor. Minha rendição total. Os livros permanecem testemunhas mudas entre lençóis... memórias que acabo de inventar.

domingo, 14 de março de 2010

cansaço



Às vezes canso-me. Simplesmente canso-me.
Canso-me dos ideais, da política, do conhecimento, das palavras, da calmaria, da turbulência, da paz, da falta, do excesso, da guerra, do quotidiano, da amargura, do domínio, dos sorrisos forçados. Canso-me dos protocolos.
Por isso carrego apenas minhas convicções numa trouxa de retalhos e sigo o rumo do mundo, andando por vezes à margem, por vezes ao centro da estrada que leva ao meu lugar.

sábado, 27 de fevereiro de 2010

I don't want to be a princess ... or a frog





A moça que gostava de sapos não era uma princesa. Era uma bruxa. E gostava de sapos, vinho, sexo e cafuné. Não necessariamente nesta ordem. A sorte dos sapos são as bruxas. As princesas só querem usar os sapos para transformá-los em algo que eles não são... a bruxa era a beleza da imperfeição, que nos torna humanos.

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Ninguém disse que seria fácil, isso é facto.



A pergunta é: Toda essa dor, é por uma boa causa? Vale o esforço?

Não quero sacrifícios, quero desejos. Quero a cumplicidade de se acreditar no mesmo sonho. De se dividir as mesmas vontades. Porque não há como negar que doí não poder amar quando se precisa. Para quem não está onde deveria e para quem não tem quem gostaria. No entanto, enquanto tudo isso for facilmente diluído com um beijo, esse frio combatido sem dificuldade com um abraço apertado e a solidão de se estar entre uma multidão for deliciosamente trocada sem ressalvas por quatro paredes e uma cama, a dois, nós estaremos a salvo.
E isso é o que importa.

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

IVANOV - 19.MAR > 27.MAR – 21H30



"Cada um de nós é feito de demasiadas rodas, de demasiados parafusos, de demasiadas válvulas, para que possamos julgar-nos uns aos outros à primeira vista ou a partir de dois ou três sinais exteriores. Eu não o compreendo, o senhor não me compreende e nem sequer a nós próprios compreendemos...

A peça Ivanov é uma sátira de uma sociedade hipócrita e vazia de princípios, que vive entre a incapacidade e a imobilidade de existir.
Ivanov é um homem banal, como muitos outros, que se vê confrontado com o tédio da sua situação familiar e social, com o desgosto e a angústia; e que tem de gerir as suas dívidas, as suas culpas, as pressões dos que o rodeiam, também com os seus problemas. Até que não percebendo nada da sua vida, compreende o que deve fazer... E decide: acabar. E acaba a peça."

tradução José Sinde Filipe
revisão da tradução Luís Lima Barreto

direcção Tónan Quito
interpretação António Fonseca, Carla Galvão, João Pedro Vaz, Joaquim Horta, Paula Diogo, Pedro Lacerda, Raul Oliveira, Rita Durão, Sílvia Filipe, Tónan Quito

cenografia Fernando Ribeiro
figurinos Ana Limpinho
desenho de luz Daniel Worm d'Assumpção
produção Henrique Figueiredo
design Hugo Neves
colaboração Patrícia Costa

co-produção Truta / Teatro Maria Matos

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

por isso sou feliz com a imaginação como siamesa...




"Só a imaginação transforma. Só a imaginação transtorna. É imaginação o livre exercício do espírito que servindo-se de um ou mais aspectos do "real" passa lenta ou rapidamente ao extremo limite deste para alcançar, pouco importa em que margens, o objecto real de um irreal conquistado no espírito."

Mário Cesariny

I've been dreaming with my eyes wide open... day-dreaming...

"Há quem diga que todas as noites são de sonhos.
Más há também quem garanta que nem todas, só as de Verão.
No fundo, isso não tem importância. O que interessa mesmo não é a noite em si, são os sonhos. Sonhos que o homem sonha sempre, em todos os lugares, em todas as épocas do ano, dormindo ou acordado."

Shakespeare, Sonhos de Uma Noite de Verão

sábado, 6 de fevereiro de 2010

sometimes...




"I want to burn, even if I break myself.
I live only for ecstasy. Nothing else effects me.
Small doses, moderate loves- all these leave me cold.
I like extravagance, heat... sexuality which bursts the thermometer!
I am neurotic, perverted, destructive, fiery, dangerous- lava, inflammable, unrestrained. I feel like a jungle animal who is escaping captivity."

Anaïs Nin

terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

olá 2010...

...há dias em que a cama parece maior... E dias em que a água do banho parece mais fria... E o quarto mais silencioso... E o coração bate mais forte e mais rápido...
Há dias em que a saudade aperta e o desejo aumenta... Dias em que a voz ao telefone soa calma e carregada de desejo... e essa voz arrepia os pêlos e aguça a memória...
Há dias em que quero voltar ao começo e fazer tudo de novo... ou tudo diferente... para trazer tudo de volta, para sentir tudo novamente em mim...
Há dias em que quero banho morno e dormir no frio para poder-me aquentar...
Há dias assim, em que quero tanto e posso tão pouco...
Mas sempre haverá outros dias...
Sempre.